09 julho 2013

Por favor, quando o texto terminar continue ouvindo a música até o fim.

No instante em que do violão foi-se extraído algumas notas, algum som, algum ritmo, eu a vi fechando os olhos vagarosamente, como se a qualquer momento as notas fossem machucá-la mortalmente.
No começo aqueles sons assustavam, via-se o corpo dela se arrepiar aos poucos, dos pés até o couro cabeludo. Aos pouquinhos as notas se transformavam em música, e de seus pés via-se brotar algum movimento, algum resquício de vida.
Subitamente o ambiente se encheu com uma voz, seu coração de algum sentimento. Talvez fosse só mais um fantasma de sua mente, talvez o mesmo que tocava o violão. Nunca saberemos.
Mas isso não importava, aquela voz apenas veio, parecia cantar, parecia sussurrar em seu ouvido. E então um sopro inesperado a fez mexer como se fosse a única coisa que poderia fazer: seus braços se abriram e seu corpo magro e delicado começou a rodopiar devagar.
A cada volta seu rosto se exprimia cada vez mais, seus braços se abriam e ficavam sempre mais leves. Suas pernas ficavam cada vez mais rápidas, e todo o pudor se perdeu.
Seus pés flutuavam, não tocavam mais o chão. Eu mal conseguia ver suas pernas se movimentando, às vezes eu as encontrava em forma de vultos. Via-se seu vestido rodado florido e cinza subindo-lhe na cintura e lhe dando movimentos, lhe dando formas, lhe dando a vida que não se via quando estava parada, sozinha com seus monstros e fantasmas.
Seus braços abertos agora também apareciam como vultos, alguns fios de seus cabelos semi presos cobriam-lhe parcialmente o rosto. Mas ao meio de seus rápidos e delicados movimentos, eu nunca perdia a sua expressão: seus olhos ainda estavam fechados, havia ali um meio sorriso discreto, mas havia. Seu peito havia se enchido de ar, ou de vida, quem sabe, e ela parecia não querer soltá-lo mais.
Cada músculo de seu corpo que se movimentava não iria parar de movimentar nunca mais.

Me enganei.

O seu fantasma bailarino a abandonou, a voz se calou, e quanto mais a música se fortalecia, mais distante ficava ela da delicada e rápida dança. 
Ela, de tão frágil, não aguentou. Caiu.

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