05 maio 2020

A primeira vez

Eu tinha 15 anos, não era a primeira vez que a gente tinha brigado por algum motivo que só ele saberia dizer. Lembro que foi quando o uso da cocaína estava ficando constante, mas eu ainda não estava tão preocupada já que não sabia disso.
O tom da relação estava bem mais agressivo do que no início, qualquer conversa era feita pisando em ovos e já era tudo um desastre.
Nesse período eu já estava só. Só havia ele presente na minha vida, não havia mais amigos e muito menos poderia conversar com a minha família.

Depois de uma série de brigas, choros (com o tempo fui aprendendo a não chorar mais por causa dessas coisas), e até que enfim uma reconciliação, ele queria transar. Fazia algum tempo que eu já não tinha mais vontade nenhuma de toques, abraços, beijos... nada. Mas ele ficou bravo com minhas recusas constantes, acusou de que não o amava mais e insinuou que eu o estava traindo.

Estava tão exausta de brigar que não precisei falar. Ele tentou de novo e dessa vez eu não empurrei, nem pedi pra afastar, então montou em cima de mim. Pedi pra mudar de posição, assim pelo ao menos poderia esconder o meu rosto, e de qualquer forma isso não iria fazer diferença pra ele. Me machucou, fisicamente dizendo. Enquanto ele fazia o que queria, eu chorei. Essa foi a primeira vez.

Com o tempo aprendi o que deveria fazer pra não me machucar mais e também a não chorar (assim como nas brigas), mas nunca deixava meu rosto à mostra, não dava pra fingir.

Eu não fazia ideia de que isso tem nome e que não deveria acontecer. Mas até hoje digo que tive um relacionamento abusivo, nada mais que isso.

Nessa primeira vez, eu estava com a minha câmera lá, e logo depois pedi pra me fotografar como me via. É uma loucura como nosso inconsciente funciona, mesmo sem entender o que está acontecendo.

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